Você Acredita Que Campinas Era o “Purgatório” do Brasil?

Caminho da Artenticidade #021

Entre Campinas e Rios de Sangue já está disponível no YouTube!

É com grande emoção que anuncio: o curta-metragem “Entre Campinas e Rios de Sangue” já pode ser assistido!

Essa obra, carregada de significado e profundidade é mais do que um filme, é um convite à reflexão sobre como é estar em um espaço onde as marcas do passado escravocrata ainda ecoam.

Vou dizer nesta edição da newsletter um pouco da história de Campinas, a última cidade a abolir a escravidão, e sobre as vivências que moldaram a minha escrita e a de Vivi de Paula.

13 de Maio e a falsa liberdade

Uma das principais ruas de Campinas chamada 13 de maio

A data 13 de maio marca o dia em que a Lei Áurea foi assinada pela princesa Isabel em 1888.

Em tese os negros escravizados receberam sua liberdade a partir desse dia, mas nada foi feito para que eles tivessem seus direitos assegurados, ​
1º - eles não eram vistos como seres humanos,
​2º - os direitos humanos só passou a ser uma pauta mundial quando a ONU decretou a Carta de Direitos Humanos em 1948, como resposta às atrocidades das duas guerras mundiais.

O fim da escravidão não trouxe inclusão, reparação ou suporte para a população negra.

Em vez disso, milhões de pessoas “libertas” foram jogadas na marginalidade, sem terra, recursos ou direitos básicos.

Enquanto a abolição foi um marco, o verdadeiro significado de liberdade continua sendo uma luta diária, especialmente em um país onde a violência racial ainda estrutura tantas relações.

Campinas como uma cidade violenta

Campinas, durante o período escravocrata, tinha uma reputação de brutalidade extrema que fazia ela ser temida por pessoas escravizadas em várias partes do Brasil.

Imagino que escutar de um senhor de engenho "Você vai para Campinas" era uma das piores frases que alguém poderia escutar, visto que ser vendido para Campinas era como uma das piores punições possíveis, devido ao nível de violência, aos castigos severos e aos trabalhos extenuante nos cafezais.

Tem até uma cantiga que diz assim:

O Rio de Janeiro é Corte,
São Paulo é capitá,
Campinas o purgatório
Onde os negro vão pená.

Nelson Omegna

Quando a abolição foi decretada, muitas regiões já haviam abandonado a escravidão na prática.

Mas os barões do café de Campinas resistiram à libertação dos escravizados, mantendo-os em cativeiro por mais algumas semanas até serem obrigados pelo Império a conceder a liberdade.

Essa resistência à abolição reforçou a imagem de Campinas como um local de opressão extrema.

Essa relutância em abrir mão de um sistema opressor revela uma mentalidade escravocrata profundamente enraizada de violência e desigualdade que persiste até hoje.

Estação Cultura

Já escutei que a estação ferroviária de Campinas, que hoje é inativa, na época da escravidão era o local principal de onde chegavam os negros escravizados.

Hoje essa estação ferroviária deu espaço à Estação Cultura, um lugar que é palco para diversas expressões culturais e artísticas.

Vou dizer agora muitas belezas que existem nessa cidade e todas já estiveram presentes em algum momento na Estação Cultura.

A herança africana e indígena

Não só de violência essa cidade é construída. O amor africano e indígena pulsa forte nessa cidade.

O Censo do IBGE mostra que Campinas é a terceira maior cidade do estado de São Paulo com presença indígena.

Aqui é uma terra indígena, tanto na cidade quanto no Brasil todo.

já haviam inúmeras civilizações nessa terra antes da colonização e é importante ressaltar isso.

Os colonizadores invadiram tomando tudo pra si, instalando sua cultura como o centro de tudo e hoje vivemos o resultado de toda essa violência.

Mas temos diversos movimentos que buscam retomar nossas culturas ancestrais e originárias, as africanas e as indígenas.

Existem diversos movimentos de cultura africana em Campinas e listo algumas:

  • Comunidade Jongo Dito Ribeiro

  • Casa de Cultura Fazenda Roseira

  • Casa de Cultura Tainã

  • Lavagem das escadarias de Campinas

  • Marcha Zumbi dos Palmares

  • Instituto Baobá de Cultura e Arte (IBAÔ)

  • Urucungus, Puítas e Quijengues

  • Movimento Negro Unificado (MNU)

  • entre outros.

O movimento negro na região é bem potente e tive o privilégio de viver um pouco dessas expressões artísticas e culturais. Tenho vontade de estar em mais contato com eles.

Casa de Cultura Fazenda Roseira

Uma vez fui numa festa na Casa de Cultura Fazenda Roseira em que a MC Tha cantou e após seu show rolou a apresentação do Jongo Dito Ribeiro.

Me lembro que no meio da dança eu olhava todas aquelas pessoas dançando, batucando, cantando e comecei a chorar copiosamente enquando dançava.

O que me vinha em mente é que aquilo que eu estava vendo em minha frente era a pura manifestação do que meus ancestrais faziam. 

Parece que fui transportado pelo tempo e isso me tomou de muita emoção.

A fazenda roseira era um casarão do século XIX que há alguns anos estava prestes a ser destruída por conta de loteamento da área, mas a Comunidade Jongo Dito Ribeiro e outros grupos ocuparam essa casa e hoje muitos projetos rolam lá.

Infelizmente, ao lado da fazenda há um condomínio que quer, a todo custo, que aquele pessoal preto, que faz seus batuques, deixem de estar neste espaço.

Há esperança

Lei Áurea assinada pela princesa Isabel

Desde a abolição até 2024 se passaram apenas 136 anos, ou seja, meus tataravós viveram na época da escravidão anunciada.

Esses poucos anos não são o suficiente para reparar toda uma história de mais de 400 anos de crueldade absurda.

Mas esses movimentos culturais negros e indígenas me trazem a esperança de um mundo com mais amor, equitativo e com mais liberdade pra gente.

Entre Campinas e Rios de Sangue

“Entre Campinas e Rios de Sangue” nasceu como resultado dessa complexa herança.

A poesia e roteiro foi escrito por mim e pela Vivi de Paula, com a gravação de cenas da Rayssa Gabriela e com a direção de atrizes e atores pela Jeniffer Éffes.

Foi filmado em locais históricos de Campinas, como a Igreja do Carmo e a Praça Bento Quirino, trazendo à tona temas urgentes: racismo estrutural, parditude, saúde mental e resistência.

Em 9 minutos de curta passamos por todas essas temáticas com muita poesia.

A produção foi um esforço colaborativo e independente, fruto da conexão genuína minha e da Vivi em que compartilhamos nossas experiências em Campinas, eu como pessoa parda e ela como pessoa preta.

Para nos mantermos saudáveis e resistentes em uma sociedade adoecida, é preciso reafirmar nossa identidade e fortalecer a autoestima.

Assista a "Entre Campinas e Rios de Sangue" no YouTube.

Compartilhe essa obra com sua rede, promova discussões e seja parte da mudança.

A arte tem o poder de transformar.

Que este filme inspire em você reflexões profundas e, acima de tudo, ações concretas para um futuro mais justo e igualitário.

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