A aceitação da morte

Caminho da Artenticidade - Edição #002

Como seria sua vida se você se permitisse sentir plenamente e abraçasse a impermanência de cada momento?

Essa newsletter é uma continuação da semana passada, onde falo da minha primeira experiência com pânico enquanto tentava virar um super Saiyajin.

Meu despertar

No final de 2017 estava consumindo conteúdos sobre alta performance, biohacking, consciência, meditação e hábitos transformadores.

Comecei a meditar regularmente e a agradecer mais, e isso me transformou profundamente.

Durante um rolê de skate, conheci a Argireya Nervosa, um psicotrópico potente.

Apesar do histórico familiar de problemas psicológicos e do medo de enlouquecer, decidi experimentar cautelosamente.

Em um domingo de dezembro de 2017, na Praça das Águas em Campinas, tive uma experiência profunda e reveladora.

Todo o conhecimento sobre expansão da consciência fez sentido de forma palpável.

Voltando para casa, recebi insights divinos, sentindo amor e compaixão por todos os seres que encontrava na rua.

Mas comecei a sentir o pânico me rodeando, lembrando minhas crises passadas.

Reconhecendo os sinais, tentei me acalmar, dizendo aos amigos: — Meu deus, tá dando ruim, tô sentindo o início do pânico, por que comi essa semente? Não devia ter feito isso... Respira Miguel, relaxa, aproveita, ande de skate — e assim me tranquilizei.

Aquele dia fluiu bem, mas a semana seguinte tomou outro rumo.

O dia que mudou minha vida

Na quinta-feira da mesma semana, tive outra experiência com Argireya, dessa vez com uma dose mais alta e maior confiança.

Fomos para a Praça das Águas novamente andar de skate.

Chegando lá, senti um peso estranho e percebi a energia e os julgamentos das pessoas ao meu redor, o que me assustou profundamente.

A crise começou devagar, sussurrando que algo estava errado. Sabia que era paranoia, mas o medo só aumentava. Quando não pude mais ignorar, deitei no chão, aceitando que estava em crise e sem controle.

Todas aquelas vozes aumentaram, meu corpo tremia e sentia tudo de forma estranha.

As pessoas ao meu redor tentavam me acalmar, mas eu acreditava que estava morrendo.

Tirei a camiseta e o tênis, joguei água no corpo, passei terra, arranquei matos, acreditando ser meus últimos momentos de vida.

Até que deixei de lutar contra minha morte.

Passei a aceitar que eu ia morrer.

Eu dizia para as pessoas ao meu redor "Eu ia ser útil pro mundo, adeus gente" e relaxava o meu corpo aceitando o meu destino final.

Nessa hora eu só pensava que minha missão ainda não estava concluída, lamentava muito por estar morrendo cedo demais e tinha certeza absoluta que após morrer eu voltaria para a Terra terminar o que comecei.

Meu corpo formigava, ouvi um som estranho, fechei os olhos com medo, mas então tudo começou a se acalmar.

Um amigo sentou do meu lado, tocou um violão, comecei a rimar e isso mudou minha energia.

Uma parte de mim morreu, dando lugar a uma nova versão do Miguel.

Pânico é resultado da desconexão

"Todas doenças derivam de um ponto fundamental: a desconexão; a falta de capacidade de compreender a realidade do jeito que ela é" — Matheus Macêdo, Vida Veda

Gabor Maté, um médico e autor de diversos livros, diz as seguintes coisas sobre o trauma:

  • O trauma leva à desconexão consigo mesmo, onde a pessoa perde contato com seus sentimentos, necessidades e corpo.

  • Muitos problemas de saúde física e mental, como vícios, doenças crônicas, e distúrbios emocionais, têm raízes em experiências traumáticas.

  • O trauma não se trata do que aconteceu externamente com você, mas sim sobre a maneira que você reagiu a tal situação.

  • A desconexão é uma forma da mente sobreviver ao trauma, onde ela aprende a dissociar ou reprimir emoções dolorosas e estressantes.

  • O trauma não é apenas um evento extremo ou violento, mas qualquer experiência que faz uma pessoa se sentir profundamente insegura, vulnerável ou impotente.

Então de onde surge o pânico?

O pânico surge da ignorância, de um processo inconsciente da mente.

Quando deixamos de ver o que os pensamentos apresentam, ou quando reprimimos o que pensamos e também sentimos em nosso corpo, sabe o que acontece?

Essas sensações, sentimentos, símbolos, ansiedades, tensões e pensamentos não são esquecidos, eles são armazenados em uma memória inconsciente da sua mente, e quando digo mente, entenda que mente é todo o seu corpo, logo todo aquele lixo que você quis jogar fora está no seu corpo.

Depois de colocar tanta coisa soterradas em seu ser, essas coisas uma hora irão para a superfície, não dá para fugir disso, seja num surto, seja num burnout dentro de um trabalho, seja numa crise de ansiedade ou crise de pânico.

Todos esses "lixos" impedem que você veja as coisas como elas realmente são.

Esse acúmulo nos impede de ver as coisas como realmente são, nos fazendo focar apenas em nós mesmos.

Ignorar o que se passa dentro de nós e reagir apenas aos estímulos externos leva a um caminho não virtuoso, até que o corpo e o espírito gritam "PARA!".

E nesse momento é necessário se escutar, porque tem algo muito errado acontecendo contigo.

Espiritualidade

O desenvolvimento da espiritualidade, para mim, está mais ligado ao sentir do que aos próprios espíritos em si.

O problema da nossa sociedade de hoje totalmente saturada por telas, prazeres em excesso e comida processada é que ela está sendo cada vez mais desconectada do seu sentir.

Quando não entramos em contato com o que sentimos, nos desconectamos de nós mesmos, e com isso afundamos em angústia, frustração e sofrimento.

Estamos vivendo uma grande conexão, mas é com as telas, enquanto com o próprio corpo e mente o que geramos é desconexão. Isso inclusive dá um tema de uma Newsletter, o que acha?

Muito é dito que o nome 'religião' provém do latim 'religare', que significa se ligar novamente com mais afinco.

O que entendo disso é que as religiões originalmente foram criadas para que as pessoas juntas pudessem fortalecer sua conexão com o divino.

Mas como eu disse, espiritualidade é sentir e sensibilizar, o que não tem necessariamente relação com a religião.

Hoje a meditação é base essencial para que eu fortaleça minha conexão com o divino e para que eu tenha mais percepção de meus pensamentos, sentimentos e sensações do corpo.

Muitas vezes sentimos algo no peito sem entender o que é e tentamos racionalizar. Porém, essas sensações pedem para ser sentidas, não controladas, e quantas vezes nos damos um espaço para que esses sentimentos sejam sentidos de verdade?

Quantas vezes só nos distraímos com memes, comidas, telas, filmes e outras distrações só para não olhar para o que precisa ser olhado?

Essas sensações ou sentimentos que surgem em nós não nascem do completo nada.

São aqueles 'lixos' que criamos e deixamos guardados em nós em outro tipo de memória que não a racional e lógica.

Ao tomar Argireya, meu campo sensitivo se expandiu no peito, como quando tentava me tornar um Super Saiyajin, mas sem forçar.

Isso me assustou, pois perdi o controle daquela abertura, trazendo memórias do pânico, me dando um certo 'medo do medo', que é uma ansiedade antecipatória sobre a possibilidade de um ataque de pânico, que acaba desencadeando ele.

Em outras experiências posteriores com medicinas da floresta pude perceber essa força no peito abrindo e ativando novamente sem a minha força consciente para que isso acontecesse.

No meu desenvolvimento do sentir e de relaxar mesmo em meio a sensações desafiadoras foi o que me trouxe e me traz até hoje muita sabedoria para lidar com essa força que me abriu para muitas coisas desde minha infância.

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